SALOMÃO, Filipe. A menina e a praça. Independente. 2021. 108 p.
Você já teve vontade de, diante de uma situação difícil, mudar de ares, passar um tempo em outro lugar, onde ninguém conhecesse você e, assim, não fizesse perguntas?
Pois é dessa maneira que começa a história de Laura, a protagonista de A menina e a praça, livro do escritor Filipe Salomão lançado em 2021, com 108 páginas.
O enredo é contado por um narrador onisciente, que nos mostra uma Laura que, após não ser aprovada no vestibular (ao contrário de todas as suas amigas), decide ir passar um tempo na cidade de Grande Lagoa do Norte, onde vive sua avó materna, com quem nunca teve contato. Sua mãe, ao engravidar da menina, decidiu sair da cidade e nunca mais voltou, criando Laura sozinha, sem revelar, inclusive, quem era seu pai.
Laura estabelece uma rotina de ajudar sua avó no comércio que a senhora possui e passar muito tempo na praça local, caminhando, correndo, fazendo ioga e escutando música.
É nessa praça - quase um outro personagem - local de reflexões, decisões e encontros, que Laura conhecerá o padre local e alguns jovens da cidade, com quem iniciará uma boa amizade.
Aos poucos, sem querer, a jovem descobrirá a verdadeira história sobre seus pais e os motivos que levaram sua mãe a sair da cidade. Uma trama permeada por muito preconceito racial e social. Afinal, a família de Laura é negra e humilde, e o pai da menina vem de uma família branca abastada da cidade.
O livro é muito interessante, pois em poucas páginas o escritor conseguiu demonstrar muitas nuances das questões raciais que ainda permeiam nossa sociedade. Além de tratar de assuntos como a maneira que boatos podem acabar com a imagem das pessoas; como amizades verdadeiras são importantes para nos sentirmos seguros e como é bom fazer as pazes com o passado, para seguir em frente. O livro também aborda a temática sobre assumir a sexualidade, diante de uma sociedade preconceituosa.
Recomendo a leitura de A menina e praça, para quem gosta de livros curtos, com personagens que se parecem com pessoas reais, além de tratar de temas muito atuais de maneira sensata.
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