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Resenha do Livro: O papel de parede amarelo

  • Foto do escritor: Natasha Lorensen
    Natasha Lorensen
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

GILMAN, Charlote Perkins. O papel de parede amarelo. São Paulo: José Olympio Editora, 2016. 112 p.

 

O médico John aluga um casarão antigo para passar o verão com sua esposa, fragilizada por uma doença, ambos acreditam que essa estadia fará bem a saúde dela.

Nas primeiras linhas do conto, a mulher se sente incomodada com a casa, afinal, segundo a ela, “há algo de estranho nela. Do contrário, por que o aluguel teria sido tão barato? Ou por que teria ficado desocupada por tanto tempo?”

John sorri do comentário. Como, durante toda a narrativa, sorrirá de tudo que a esposa diz. Tratando-a como adultos costumam tratar crianças que dizem coisas divertidas ou pequenas bobagens.

Estamos falando dos personagens de O papel de parede amarelo, conto narrado em primeira pessoa, pela esposa doente do médico John, escrito por Charlote Perkins Gilman em 1892, em uma época em que as mulheres ainda precisam lutar muito para ter sua voz minimamente escutada, quando o eram.

Segundo a narradora-personagem o fato de seu marido ser médico talvez seja um dos motivos para ela não se recuperar de sua doença, pois John não acredita que ela está doente. Para muitos, à época, questões mentais femininas não eram levadas à sério, sendo consideras histeria, em outras palavras, “coisas de mulher”.

Nossa narradora-personagem se sente incomodada com o papel de parede do quarto assim que chega ao casarão, “nunca vi um papel de parede tão vulgar em toda a minha vida [...] A cor é repulsiva, quase revoltante; um amarelo encardido, sem vida”.

Ela tem por hábito escrever seus pensamentos, sentimentos e dia a dia em um diário, mas seu marido não pode saber, pois como tudo que ela faz, ele não gosta que ela escreva. Para ele ela não tem razão para estar deprimida, seu problema não é grave, a melhora só depende dela, que precisa se alimentar e fazer exercícios.

Conforme os dias passam, o papel de parede começa a incomodar ainda mais nossa personagem. E embora ela peça ao marido para trocá-lo, ele, como sempre, ignora, tratando-a de forma infantilizada. E o papel de parede, o quarto escolhido para o casalo dormir, é o quarto das crianças. “Nunca vi tanta expressividade em algo inanimado antes, e todos sabemos quanta expressividade essas coisas têm!”

A narrativa ganha contornos mais profundos de um terror psicológico, como se o papel de parede a perseguisse, como se fosse devorá-la, puxá-la para dentro da parede.

Embora ela goste de escrever, cada vez menos ela sente vontade de exercer essa atividade, outrora tão prazerosa. Em momento alguma ela revela seu nome, podendo ser qualquer mulher, qualquer esposa, qualquer mãe.

John acredita que a esposa está melhorando, pois ganhou peso, está se alimento melhor. Porém, não imagina que sua mente está cada vez mais fragilizada, porque ela não fala para ele sobre suas dores e medos, não chora diante dele, não se queixa sobre sua solidão.

Então, o papel de parede amarelo, que eventualmente aparecia na narrativa da personagem, começa a ser parte constante de seus dias. Ela o imagina a todo instante, ela sempre o observa, pois não deseja ser pega desprevenida. E quanto mais observa, mais detalhes aparecem para ela.

À noite ela não consegue dormir, pois precisa observar a movimentação dos desenhos do papel de parede em seu quarto. Existem mulheres desenhadas no papel de parede. Ela passa a se identificar com essas mulheres presas no papel de parede.

Nota: Charlote Perkins Gilman foi uma feminista, socióloga e escritora norte-americana que teve depressão pós-parto e foi tratada, na época, como histeria. Interessante observar que o Dr. Weir Mitchel, que foi seu psiquiatra, aparece no conto, sendo criticado por seus tratamentos. O conto acaba ganhando contorno autobiográficos, além das questões da problemática feminina da época.
 
 
 

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