CHAMBERS, Robert W. O rei de amarelo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. 255 p.
Afina, quem é o Rei de Amarelo? Essa é grande questão, ninguém o sabe. Será o Rei de Amarelo um mito, uma ficção ou uma verdade que não queremos crer?
O rei de amarelo é uma coletânea que contém dez contos, sendo um deles de poemas em prosa – O paraíso do profeta.
A ideia sobre “o rei de amarelo”, que permeia os quatro primeiros contos, é mencionada a partir de uma peça fictícia homônima. Peça que, ao ser lida na íntegra, levaria o leitor à loucura. Existe então uma maldição nesta peça teatral.
Contudo, há um misto de devoção ao Rei de Amarelo nesses quatro primeiros contos, como se houvesse uma sociedade que o aguarda retornar. Essa devoção é confundida com alucinação e loucura nos textos, provavelmente, em razão de os personagens terem lido a peça teatral composta de dois atos e incrivelmente bela. Não temos como saber se o Rei de Amarelo retornará ou se ele é apenas um delírio.
Os personagens principais da trama são masculinos, em geral ligados ao mundo da arte. A maior parte dos contos se passa em Paris, contudo há contos que ocorrem na América. A atmosfera sombria, soturna e repleta de mistérios, espectral e sobrenatural permeia todos os contos.
O primeiro conto, O reparador de reputações, é o mais extenso. E foi o que tive mais dificuldade para ler, em especial no início, muito lento. A partir da metade do conto e da relação entre realidade e fantasia da personagem, que vive em um mundo idealizado pela figura do Rei de Amarelo e seu poder, a leitura ficou mais intensa.
Os três contos seguintes, que compõem a primeira parte do livro, foram de uma leitura intensa, uma vez que são mais curtos e, apesar de todo o gótico e sobrenatural, as cenas de suspense deram um tom de tensão e emoção bastante eficaz, fazendo querer ler de modo rápido.
Eu gostei muito do conto A demoiselle d’Ys. Há algo muito espectral nessa narrativa, e esse tipo de narrativa me envolve. A tensão nele era marcada por um romantismo fugaz, que poderia se desfazer a qualquer instante.
Os contos da segunda parte mantêm a atmosfera gótica e sobrenatural, mas a relação com o Rei de Amarelo desaparece, o que não diminui a qualidade ou mesmo o suspense e terror de suas narrativas.
Há muito desejava ler O rei de amarelo, primeiro porque realmente gosto de textos nesse estilo: terror fantástico, sobrenatural. Segundo, porque esse livro influenciou autores que gosto muito, como H.P. Lovercraf, Stephen King e Neil Gaiman; além do escritor, produtor e roteirista de uma das minhas séries preferidas, True dectetive, Nic Pizzolatto.
Mas, ao final do livro continuamos com a pergunta: afinal, quem é o Rei de Amarelo? Apenas uma figura fictícia de um texto teatral amaldiçoado? Ou será que ele realmente existe e aguarda para retornar de modo triunfal?
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