BEI, Aline. O peso do pássaro morto. São Paulo: Editora Nós, 2017. 168 p.
Qual o peso de um pássaro morto? Na palma das mãos. Dento do coração. Já se perguntou? Pássaros nos remetem a ideia de liberdade, para voar, para acessar novos horizontes, novos destinos, jornadas distantes. São idealizações de um imaginário de sonhos possíveis, de um futuro livre, com o coração aberto e cheio de alegria. Porém, qual o significado de um pássaro que não voa, pois está morto. Morto dentro de nosso peito. Pesando como uma cicatriz, todos os dias.
Esse é o tema do livro O peso do pássaro morto, da escritora Aline Bei, publicado pela editora Nós em 2017. Um livro que trata de perdas, especialmente, sobre como essas perdas pesam dentro de nós, fundem-se a nosso ser mais íntimo, moldando nossa existência, nossas escolhas (e não escolhas), nosso destino.
O livro é narrado em primeira pessoa, por uma mulher sem nome, uma desconhecida, que poderia ser qualquer mulher. Não há referências a datas. Os capítulos são indicados pelas idades da eu-você-todas-nós anônima. Iniciando na infância, aos 8 anos.
É possível perceber a carga emocional de cada fase da vida, e suas mudanças, as mais sutis e as mais visíveis. Aos 8 anos, temos uma menina inocente, desvendando o mundo, cheia de curiosidade. Os sentimentos que experimenta são novos, tanto que ela mal sabe mensurá-los, nomeá-los. Mas há uma alegria viva, nas experiências da descoberta.
Aos 17 anos, a adolescente cheia da alegria de viver, passará por uma situação de perda de si mesma, e encontro com uma outra ela mesma, que mudará ainda mais sua trajetória, sua personalidade e a maneira de se enxergar no mundo.
Uma história de sofrimento, em cada época, uma perda, que distancia a personagem daquela menina de 8 anos, a pequena e curiosa menina, cheia de alegria, que sonhava em ser aeromoça.
A narrativa é escrita em forma de poesia livre, como os pássaros que ainda estão vivos. Sem todas as regras poéticas dos clássicos. Sem barreiras entre maiúsculas e minúsculas, onde o leitor não sabe em que parte a dor começa e termina, porque ela se funde em si mesma, em cada verso, em cada página, na própria leitura, quando você começa a sentir parte de todo aquele enredo, pois poderia ser você, aquela mulher anônima, ou uma mulher próxima a você, como tantas e como todas.
Recomendo a leitura de O peso do pássaro morto para todo o leitor que gosta de textos com peso narrativo sobre a brutalidade da vida. Sobre como a vida pode nos fazer perder sentimentos, sonhos, desejos e a nós mesmos.
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