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Foto do escritorNatasha Lorensen

Resenha do Livro: O ar que me falta

Atualizado: 16 de jan.

SCHWARCZ, Luiz. O ar que me falta: história de uma curta infância e de uma longa depressão. São Paulo: Cia. das Letras, 2021. 199 p.


Por onde se inicia a depressão? Qual a chave que é virada, dentro de nós, que começa a fazer a engrenagem dessa doença, tão pesada e cada vez mais séria e comum nos dias atuais, “funcionar” dentro de nós?


Existem as questões genéticas. As hereditárias. As de momento, chamadas “gatilhos”. E muitas outras que os estudos apontam, ao longo de anos, em que a ciência tenta compreender a depressão. Porém, refiro-me aqui ao exato momento em que algo, em nosso cérebro, células, espírito, ou seja, o que for, diz “ah, é agora, esse é o instante, é aqui que a depressão se instalou nesta criatura”.


Apresento a vocês o livro, O ar que me falta: história de uma curta infância e de uma longa depressão, uma memória autobiográfica escrita por Luiz Schwarcz. Para quem não o conhece, além de escritor, Schwarcz é um dos nomes mais respeitados do meio literário brasileiro, sendo o fundador e dono da Companhia das Letras, uma das maiores editoras do Brasil.




O livro autobiográfico, lançado em 2021, surpreende, não somente por falar sobre a depressão de uma forma realista, forte, desnuda. Mas, por mostrar um outro lado, que talvez poucos conhecessem, de um homem considerado bem sucedido nos meios intelectuais brasileiros. Provando que uma doença como a depressão, não faz “escolhas”, e que não acomete somente as “mentes frágeis”, “fracas, “ignorantes”.


A narrativa de Schwarcz conta, de forma memorialística, sobre sua infância, relembrando as noites mal dormidas do pai, André, judeu húngaro sobrevivente das perseguições nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. André, pai de Luíz, conseguiu escapar de ser preso, junto com seu pai, Láios, avô de Luiz, em um dos campos de concentração nazistas, sendo empurrado por Láios do trem que os levava para o campo de Bergen-Belsen. Contudo, essa fuga o rendeu, por toda a vida, o peso do sentimento de culpa, por não ter conseguido voltar para salvar o pai. Schwarcz nos mostra toda essa história, agora adulto, relembrando pelos olhos de uma criança, os pesadelos do pai, os olhos tristes, a culpa.


“Aprendi o sentido da palavra “culpa” desde muito jovem, como algo que fundava minha existência, algo que passava além dos olhos ou das pernas do meu pai”. (p. 16).


Sua mãe, Mirta, judia croata, também sobrevivente das perseguições dos nazistas, desde muito cedo teve que aprender a decorar outros nomes, que não fossem o seu. E, após o casamento, sucessivos abortos espontâneos marcaram o projeto de ter um filho, que foi idealizado na figura de Luíz.


O casamento entre André e Mirta passou por muitos altos e baixos, mostrados nos relatos de Luíz Schwarcz, acompanhados pelo menino Luíz, que acabou tornando-se confidente dos pais nos momentos de separação. Um menino tratado como um pequeno adulto. Ele acabou sentindo-se responsável por manter a união do casal, que tinha o filho como vínculo.



Todos esses pesos lançados sobre o menino Luíz e sobre o jovem Luíz, poderão ter contribuído para o despertar precoce de sua depressão? Schwarcz é levado, ainda com 14 anos, ao psiquiatra, quando recebe o primeiro diagnóstico.


Os laços com avós maternos, as liturgias judaicas, o prazer pela leitura e pela música, os jogos de futebol e outros cotidianos de sua vida são relatados no livro, nos mostrando um lado de Luíz que poucos, fora do círculo familiar mais íntimo, poderiam conhecer.


Um ponto importante do livro, é a questão do diagnóstico e do tratamento contra a depressão. As mudanças de medicação constantes, até o acerto com os remédios corretos. O encontro com a psiquiatra que faria o diagnóstico final, de bipolaridade, que, enfim, melhoraria, sobremaneira, a qualidade de vida do escritor.


O livro O ar que me falta é essencial para o entendimento da depressão e da bipolaridade. Doenças mentais que chegam cada vez mais cedo aos lares das famílias, de todas as classes, no Brasil. Escrever um livro autobiográfico sobre esse tema é, sem dúvida, corajoso e inspirador.


Corajoso, pois em nosso país ainda há enorme preconceito em relação às doenças mentais. Inspirador, porque pode – e deve – contribuir para que as pessoas falem mais a respeito do tema, estudem sobre ele, questionem, e ainda, ajude para que outros, que passem pelo mesmo, possam não se sentir tão sozinhos.



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